terça-feira, 18 de abril de 2023

A Linguagem do Universo

    Ana era uma alma simples, porém abençoada com um dom singular: ela era capaz de estabelecer comunicação com as árvores. Para ela, isso era algo magnífico, uma porta de entrada para um mundo desconhecido e mágico. Mas havia algo estranho nesse poder: as árvores nunca respondiam. Ana sentia-se como um indivíduo que tenta falar com espectros, mas só ouve o eco do silêncio. Ela se questionava se as árvores eram surdas, indiferentes ou simplesmente incapazes de compreender a linguagem humana. No entanto, Ana não se dava por vencida. Ela caminhava pela cidade, admirando as árvores e tentando conectar-se com elas, mesmo que parecesse um diálogo unilateral. Muitos a achavam estranha. Ela parecia uma eremita urbana, falando sozinha com árvores como se elas fossem seus amigos imaginários. Mas Ana não se importava. Ela se sentia em paz na companhia das árvores, sentindo uma comunhão silenciosa com a natureza. Certo dia, enquanto Ana estava sentada sob uma árvore, desfrutando do frescor de suas folhas e do aroma de sua seiva, ela teve uma revelação. Ela percebeu que, talvez, as árvores estavam falando com ela o tempo todo, mas de uma maneira sutil e metafórica. Talvez as árvores estavam respondendo às suas perguntas por meio de seus movimentos, seus sons, suas cores. Talvez as árvores estivessem tentando dizer algo que Ana ainda não tinha aprendido a ouvir. A partir desse momento, Ana começou a prestar mais atenção às árvores, tentando decifrar seus sinais. Ela notou que, quando o vento soprava, as árvores balançavam suas folhas como se estivessem dançando. Ela notou que, quando as nuvens encobriam o sol, as árvores ficavam mais quietas, como se estivessem cochilando. Ela notou que, quando a chuva caía, as árvores pareciam cantar uma música de gotas e galhos. Ana sentiu-se extasiada com essa nova percepção, como se tivesse descoberto um segredo há muito esquecido. Ela percebeu que, embora nunca tivesse conversado com uma árvore de maneira convencional, ela havia estado em contato com elas de uma maneira profunda e autêntica. Ela percebeu que as árvores eram suas amigas, suas confidentes, suas professoras. Ela percebeu que seu poder não era inútil, mas um presente valioso que lhe permitia conectar-se com o universo de uma forma singular.

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